Voltado para bebês e crianças pequenas de até cinco anos, POROROCA dá continuidade à pesquisa em ações culturais para a primeira infância iniciada em 2017 pelo grupo paulistano. No final da apresentação os pequenos espectadores são convidados a entrar no espaço cênico para interagir com as atrizes e cenário
O encontro do mar com o rio, que forma ondas enormes em um espetáculo visual de tirar o fôlego e, que também pode provocar grandes mudanças é o cenário do novo espetáculo para a primeira infância da 2 Mililitros Cia. Teatral. Com direção de Victoria Ariante, dramaturgia de Elenice Zerneri e atuação de Júlia Mariano e Thiane Lavrador, POROROCA estreia dia 8 de março, sábado, às 15h, no Teatro B32.
Primeira montagem para bebês da 2 Mililitros que utiliza palavras (nas peças anteriores a companhia prioriza outras maneiras de comunicação sem ser verbal, como a linguagem corporal ou por meio de sons e luzes), POROROCA traz para a cena as reconfigurações que um núcleo familiar passa com a chegada de um irmão mais novo.
Em POROROCA, Aruá é um caramujo que vive no rio Amazonas. Sua vida segue bem tranquila até que a passagem da pororoca tira tudo do lugar! O fundo do rio vira uma bagunça e o pior: a sua concha desapareceu. Quando finalmente encontra sua concha, Aruá descobre que um outro molusco, menor e mais jovem, tomou posse de seu refúgio e agora vive dentro dele.
Palavra como mais um elemento
Com o desafio de mesclar poesia e compreensão e envolver não somente os bebês, mas também os adultos, POROROCA apresenta um forte apelo visual e sensorial. A cenografia lembra um “parquinho” com uma estrutura sinuosa por onde as atrizes circulam fazendo alusão às curvas de um rio. Trilha sonora, iluminação, movimentos corporais e dramaturgia se somam ao cenário criando um universo lúdico.
Segundo a atriz Thiane Lavrador a junção de todos os elementos presentes na cena, como músicas, imagens, sons, cores e textos cria uma atmosfera divertida. “É uma viagem debaixo d’água, onde a plateia acompanhará a trajetória de Aruá e suas aventuras para saber o que aconteceu com sua concha e quem é o novo morador”, adianta ela. Já a atriz Júlia Mariano pontua: “Nesse caminho cheio de novidades, o ambiente reconfigurado move nosso caramujo para tentar fazer com que tudo volte ao seu devido lugar. Mas será possível?”.
Estreando na dramaturgia para a primeira infância, a autora Elenice Zerneri conta que foi um aprendizado colocar a palavra em patamar de igualdade com o resto dos elementos que contam uma história. “Recorri a rubricas poéticas do tipo ‘a mesma trilha sonora que constrange pessoas em um elevador, barulho de mosca, bola de feno na estrada, uma folha que a correnteza leva’ para tentar dar conta das sensações. Nesse sentido, a direção cuidadosa e a experiência prévia das atrizes da 2 Mililitros foram fundamentais. A palavra, na peça, é só mais um elemento, só mais uma das tantas coisas que dizem”.
Convite ao imaginar
Para a encenação, a diretora Victoria Ariante se debruçou no jogo teatral: duas atrizes que se revezam entre os personagens, se transformam diante dos olhos da plateia e mostrando que um objeto pode ter qualquer outra função para além da que já se faz conhecida. A direção também apostou em um justo equilíbrio entre dramaturgia e representação, seja na escolha das palavras ou na construção da própria encenação, produzindo imagens que possam cativar os bebês e instigá-los a sensações e percepções.
“POROROCA é um convite ao imaginar e ao brincar, instigando a possibilidade do relacionar-se e da beleza que há quando dois indivíduos percebem quão interessante pode ser o encontro entre ambos. Espero que os pequenos se reconheçam em situações ali apresentadas e sintam, através da representação, que há alegria na mudança. E que descobertas só se revelam quando crescemos”, explica a diretora.
O que é pororoca?
Derivado do Tupi que designa “estrondo”, Pororoca é um fenômeno natural caracterizado por grandes e violentas ondas que são formadas a partir do encontro das águas do mar com as águas do rio. O fenômeno se torna mais evidente nas mudanças de fase da lua, especialmente na lua cheia e nova. O processo ocorre quando os níveis das águas oceânicas se elevam e essas invadem a foz do rio. O confronto dessas águas promove o surgimento de grandes ondas que podem atingir até dez metros de largura e cinco de altura e a uma velocidade que oscila entre 30 e 35 quilômetros por hora.
No Brasil esse fenômeno ocorre na foz do rio Amazonas, litoral do Estado do Pará e no rio Mearim, Estado do Maranhão. O encontro das águas promove um verdadeiro espetáculo, mas provoca também um rasto de destruição nas margens dos rios, retirando muitas árvores, algumas dela de grande porte. Pode-se prever a pororoca com duas horas de antecedência, pois a força da água vinda da cabeceira provoca um barulho muito forte e inconfundível.